terça-feira, 4 de novembro de 2008

O quê é Eficácia? parte 2

Na primeira parte procurei explicar os têrmos eficiência, eficácia e efetividade. Agora que vocês sabem como eu estarei usando estes têrmos passarei a discussão eficácia em artes marciais propriamente dita.

A primeira coisa a ser estabelecida é: qual o objetivo principal de minha prática marcial?

Caso o objetivo seja melhoria da minha qualidade de vida(já que "saúde" é meio vago), como a minha prática se propõe a alcançar esta meta?

Qualidade de vida engloba: eficiência fisiológica(o corpo funcionar de forma eficiente), eficiência psico-emocional(a mente lidar com as experiências de modo equilibrado, sem desgastes) e eficiência social(interação social harmoniosa).

Uma modalidade que provoque machucados crônicos não será fisiologicamente eficiente. Uma que intensifique a agressividade não será social ou psico-emocionalmente eficiente. Observando sob este prisma muitas modalidades são na realidade bem pouco saudáveis...

Caso o objetivo seja a capacidade de derrotar outras pessoas em duelos corpo-a-corpo (já que defesa pessoal é fuga e combate se fundamenta em armas), como minha modalidade se propõe a alcançar esta meta?

Num duelo corpo-a-corpo a meta é comparar habilidades de modo  valorar um vencedor. Regras são definidas. Elas podem ser específicas (como no Kendo, onde até mesmo a forma de andar é restrita) ou vagas("apenas dois lutadores" ou "lutar até knockout ou desistência"), mas estarão presentes.

Derrotar pessoas em duelo corpo-a-corpo engloba: conteúdo conciso(menos informação gera menos necessidade de decisões conscientes e maior intensidade de treinamento) , ênfase em treino livre com variação de parceiros(para estimular a criatividade intuitiva) e condicionamento desportivo(trabalho paralelo voltado para a aquisição de mais força, velocidade ou resistência, de acordo com as necessidades da modalidade de duelo).

Uma modalidade com um conteúdo muito prolixo ("nosso estilo tem mais de dez mil formas de coçar o nariz...") será combativamente ineficiente. Uma que se concentre na prática de exercícios formais(Kata ou Xing) não terá uma prática eficiente para o caos do combate. Uma que ignore a necessidade de trabalho paralelo de fortalecimento estará ignorando uma parte significativa da formação de um lutador.

Da próxima vez que você for treinar se pergunte: o quê estou pretendendo obter de meu treinamento e quão adequado a este objetivo ele parece ser? 

Continua...

Reflexões sobre a prática e ensino de artes marciais.

Uma discussão que frequentemente vêm à baila é sobre "métodos ultrapassados" ou sobre como "mestre X aperfeiçoou as técnicas tradicionais".

É interessante como as pessoas parecem achar que MÉTODOS são coisas de materialidade tangível. É como se as técnicas do Karate Shotokan(exemplo) estivessem lá, guardadas numa pokebola*,e o praticante as recebesse; na hora do combate bastaria gritar "Oizuki, eu escolho você! Ruma a desgraça de pégasu!".

Na prática, este erro é compreensível.

Nossa geração viveu uma quebra de paradigma nas artes marciais. Sua comercialização.

Numa época onde elas eram empregadas em seu papel original(prover guerreiros de habilidades facilmente empregadas em combate) seu conteúdo era simples e objetivo. Tão logo o básico fosse dominado o guerreiro era enviado para batalhas, nas quais teria a chance de pôr a prova o quê lhe foi ensinado e, em alguns casos, complementar este conteúdo com suas próprias experiências.

Com o advento da paz estas modalidades foram se modificando. Seu objetivo primário não sendo mais tão imediato(nenhuma guerra às vista), novos papéis foram encontrados. Ginástica, prática social, válvula de escape da agressividade dos jovens, máquina ideológica do estado...e de acordo com estas novas roupagens, novas organizações de currículo e metodologias foram experimentadas.

Estes fatos eram e são ignorados pela maioria dos praticantes e boa parte dos "mestres". Modalidades fundamentalmente civis e ginásticas são ensinadas como "herança dos antigos guerreiros do/a [escolha seu país]". Nos casos em quê o "mestre" percebe que as técnicas "tradicionais"(que às vezes vêm de uma "tradição" de menos de dez anos) não funcionam bem, este faz uso de seus [superficiais] conhecimentos sobre combate[competições e filmes] para "aperfeiçoá-las", com resultados questionáveis.

Infelizmente muitas das modalidades mais populares atualmente foram fruto de processos similares. As modalidades mais difundidas atualmente(Judo, Karate, Taekwondo, Taichichuan, Hapkido, Aikido, Wing Chun e Jiujitsu) são criações recentes, desenvolvidas por esportistas ou brigadores de rua. E sofreram processo de "refinamento" voltado para duelos esportivos("desafios" onde habilidades são colocadas em oposição).

Isso somado à cultura popular e ao folclore oriental criou vários mitos hoje defendidos como verdades.

A menos que estejamos dispostos a admitir nosso apêgo à fantasia será impossível têrmos a objetividade necessária para levar nossas modalidades à seu potencial pleno.

*Poke-bolas são dispositivos usados o desenho animado japonês(anime) "Pokêmon"(do japonês poketoo monsuta ou monstro de bolso)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Quem ensina o quê a quem?


Fomos doutrinados a crer que o "professor ensina"...mas na prática isto é impossível. Nenhum professor pode controlar o sistema nervoso do aluno e mover seu corpo/mente por ele.

Ele oferece experiências. Estas experiências provocam certos lampejos de inspiração, os quais são o aprendizado.

Um professor habilidoso escolhe as experiências pedagógicas com base naquilo que o aluno já sabe, de modo a trabalhar à partir de um referencial comum. Um aluno que não esteja atento as estes momentos poderá ser adestrado na forma por um adestrador habilidoso, mas jamais alcançará uma compreensão da essência. Será como um animal de circo, respondendo a estímulos externos de uma forma previsível(estalo do chicote, som do apito, gestos da mão, comando verbal).

Um MÉTODO DE COMBATE TRADICIONAL é formado pelas experiências acumuladas por uma linhagem de praticantes, as quais foram escolhidas por se mostrarem mais eficazes para garantir este tipo de esclarecimento para a essência do combate.

É aqui que surge o dilema da prática de métodos tradicionais de combate: o método é fim ou meio?

No passado estes métodos eram o meio de se desenvolver as habilidades necessárias para a efetividade em combates. Sua transmisão não se baseava na preservação do método e sim da efetividade, de modo que tudo o que fosse se mostrando anacrônico e desnecessário ia sendo descartado. E isto era coerente.

Na atualidade a questão se torna mais delicadada. Tomando como exemplo o Hojutsu(manejo do fuzil de mecha/pavio), o método em sua integralidade é inefetivo, a começar da sua arma. Considerar a idéia de praticar esta modalidade tendo em vista seu emprego em combate seria uma completa loucura. É patente que sua prática se dá na dimensão estética da preservação de uma herança cultural, o quê torna sua trasmissão fidedigna e integral imprescíndivel. Qualquer "adaptação", "aperfeiçoamento" ou "correção" irá ferir a autenticidade da prática.

A solução para este dilema está em praticar estas artes num contexto de jogo de papéis(RolePlaying), onde o "como se fosse" é a norma.

Praticar o tiro com o fuzil de mecha como se vivêssimos num lugar e era onde ele seria o zênite da tecnologia bélica. Sem perder de mente tratar-se de uma fantasia.

P.S.: e para quem quer ver como se faz...
http://www.youtube.com/watch?v=2KTS8PQ06Qo

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O quê é Eficácia?

Não importa se é um praticante de Aikido ou MMA; cedo ou tarde ele vai falar sobre a eficiência de sua arte. Sob o têrmo "eficiência" esconde-se a valoração de nossa modalidade ("vale a pena treinar X em função de ser eficiente"). Depois desta valoração inicia-se a competição para justificar a superioridade de uma modalidade sobre a outra om base em sua "eficiência".

Eficiência X Eficácia X Efetividade.

Eficiência é, em linhas gerais, a correta execução de uma dada tarefa. Eficácia é a correta escolha da tarefa para um determinado fim. Efetividade é o impacto causado no contexto da aplicação.

Alguém pode ser eficiente (realizar realizar a tarefa corretamente), ineficaz (não percebendo que o método executado é inadequado ao objetivo) e efetivo (cumprir o objetivo dentro do prazo). Também é possível ser ineficiente (realizar um serviço de forma mal-acabada e com um dispêndio desnecessário de recursos), eficaz (aplicando o método adequado) e inefetivo (desagradando as expectativas do projeto).

Ficou confuso? Sinal de quê é um pessoa normal...pois esta distinção é vaga e subjetiva, baseada em distinguir entre fins e meios. E na vida real, fins e meios comumente se confundem.

Eficiência, Eficácia e Efetividade em combate.

Seria fácil, usando como exemplo o Aikido, dizer que ser eficiente significa realizar o kotegaeshi mecanicamente do jeito certo, com um mínimo de esforço e o máximo de efeito. E explicar eficácia como escolher o momento apropriado de aplicar este kotegaeshi. E efetividade seria a relevância disto para o indivíduo (vencer o Ultimate Fighting Championship).

O problema no caso de artes marciais é: como distinguir onde começa o método?

Para podermos compreender eficiência, eficácia e efetividade em métodos de combate temos que primeiro deixar claro o quê são fins e o quê são meios. Uma vez estabelecidos estes pontos, fica mais claro como medir diferentes métodos (clássicos ou modernos).

Defesa Pessoal.

Defesa Pessoal significa defender (ou a alguém) de uma agressão.

A melhor defesa reside em impedir a ação do agressor, de modo que não seja necessário reagir a um ataque. Quando reagimos somos obrigados a escolher um curso de ação de maneira abrupta, condição na qual o potencial para uma má escolha (ineficácia) ou aplicação(ineficiência) de uma resposta pode levar a inefetividade da defesa. Outro fator importante é o tempo; quanto mais tempo levarmos para realizar a ação de defesa maior o risco de fracasso. Por esta razão é sempre recomendável ter em mente a evasão.

Com base no acima descrito, um método de combate voltado para DEFESA PESSOAL deve trabalhar de forma pró-ativa, antecipando as situações de risco e enfatizando a fuga. O confronto deve ser visto como último recurso, no qual a ênfase deve ser criar oportunidades de fuga para aquele que se busca defender.

Combate.

Combate é a busca de sobrepujar um antagonista. Pode se dar no âmbito esportivo ou social, o quê irá definir as "regras de engajamento".

"Regras de engajamento", de forma simplificada, são as condições e limitações (práticas ou sociais) para o combate. Não usar armas nucleares ou químicas no Iraque fez parte das regras de engajamento naquele contexto. Não golpear abaixo da linha da cintura faz parte das regras de engajamento do Boxe.

O melhor método de combate será aquele que melhor explorar as brechas nas regras de engajamento, de forma a dar superioridade ao seu usuário, na busca do seu objetivo maior.

Vale lembrar quê, em combate não-esportivo, demonstrar superioridade não é a meta. Não se trata de uma questão de mérito e sim de necessidade de auto-preservação, seja num sentido objetivo (defender-se) ou subjetivo (defender seu projeto de vida/sociedade). Nestas condições a capacidade de manipular ou mesmo burlar as regras do engajaeto é de crucial importância para o sucesso de uma empreitada.

Continua...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Aprender, Treinar & Incorporar

Aprender: imitar alguém que apresenta uma proposta que se julga digna de mérito.
Treinar: repetir CORRETAMENTE algo que foi APRENDIDO, de modo ser capaz de fazê-lo de forma natural e automática.
Incorporar: é quando algo novo é aprendido e treinado ao ponto de o conhecermos intimamente e sermos capazes de contextualizá-lo.

Para que está familiarizado com as artes marciais japonesas a expressão "Shu-Ha-Ri" virá a tona. Preservar, Quebrar e Libertar-se.

Aprendendo a aprender.

O problma de "aprender" é compreender que no começo é basicamente repetir algo que não se entende. Entender vm depis, quando a imitação já se tornou fidedigna, nunca antes. E é aqui que mora o dilema.

Ao chegarmos na fase adulta já temos uma visão dicotomizada entre utilitarismo e diletantismo. Existe as coisas funcionais(que cumprem funções) e as nossas disgresões (coisas que fazemos como formas de expressão de individualidade). Atividades utilitaristas não são vistas em si, e sim em seus resultados. Já as disgressões são usufruídas exatamente em sua características irresponsável e inconsequente.

É por isto que temo doisd tipos de erros comuns em artes marciais: falta de empenho ou excesso de brutalidade.

Os que enxergam artes marciais como métodos de combate corpo-a-corpo não enxergam o quê é treinado e sim a habilidade que almejam. Quando o instrutor exibe a técnica a ser praticada, o aluno utilitarista não enxerga a técnica e sim seu efeito no colega de prática("o mestre arremessou o cara longe...como ele é FORTE!"). Concentrado em tentar repetir o EFEITO o aluno tenta solucionar o dilma("como arremessar o cara daquele jeito?") ao invés de se concentrar em repetir a simulação de técnica apresentada(que é a solução). Erro similar ocorre quando se exerga estas modalidade como ginástica, dança, meditação...

Os que enxergam artes marciais como de lazer não percebem o treino e sim socialização e recompensa (elogios, prestígio, títulos). Por não treinarem visando copiar o quê é explicitado, ficam à espera da "explicação clara". Ou da "prática que leva à perfeição" (qum dirige sabe como práica não leva a perfeição nnhuma, ou o trânsito seria perfeito...).

Esforçar-se em ser capaz de mimetizar o professor em cada detalhe deve ser a única meta na mente do iniciante.

Continua...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O que são artes marciais japonesas.


A maioria das coisas que "todo mundo sabe" estão erradas. As poucas que estão corretas estão descontextualizadas.

O têrmo "Artes Marciais" é europeu, de origem na cultura clássica. Denota expresões artísticas relacionadas à guerra e não necessariamente à batalha. A composição de marchas não é uma atividade de combate, no entato está relacionada à guerra. A heráldica é outro exemplo de arte marcial não combativa.

Quando as modalidades de treinamento de combate orientais foram descobertas pelos europeus, sua plasticidade evocou a noção de estética artística. Daí que foram automaticamente reconhecidas como artes marciais, muito embora alguns preferissem chamar de "ginástica" por julgarem tais métodos anacrônicos e passíveis de preservação apenas como manifestações culturais.

O maior erro que se comete é julgar que um método de combate trata-se de uma mera coletânea de truques ou técnicas a serem memorizadas. Esse equívoco é que leva muitos a acharem que basta juntar as "técnicas mais eficazes de diferentes estilos para criar a arte definitiva!".

Entendendo o Budo.

A idéia num budo é quê através da prática de determinadas simulações seria possível interiorizar comportamentos e sentimentos adequados à realidade do combate. Prática CORRETA, sendo quê atingir o nível de execução correta das técnicas é o quê definia o INÍCIO DA PRÁTICA DE UM BUDO; tudo o quê antecede este momento seria preparação para o efetivo treino que ainda não começara.

Ao contrário do quê ocorre hoje em dia, o aluno fazia exatamente aquilo que o sensei mandava, sem questionamentos imbecis do tipo "e se". Isto tornava o tempo de aprendizado da forma ( kata) mais rápido (semanas). Com o kata aprendido, começava-se o treino propriamente dito. Estes kata visavam o mais relevante e provável e contavam com a idéia de quê o elemento surpesa seria seu.

A abordagem dos duelos era muito diferente da nossa visão de competição. A começar pelo fato de quê duelar era visto como um ato egoista (você colocava em risco sua vida em função de um problema pessoal), diferente de lutar por ordem de seu Daimyo (grandes nomes- administradores, similares à barões europeus) ou por devoção filial.

A idéia do treinamento de budo era instilar bravura e disciplina e te preparar para o campo de batalha, e não para vencer duelos.

O quê eram os Koryu Hyoho(métodos militares tradicionais).

Em primeiro lugar devemos entender a importância da espada. Para o samurai, mais do quê uma ferramenta de guerra, ela era uma insígnia de autoridade e símbolo de classe. Desta forma ela SEMPRE estava em suas mãos.

É por isto que, aindaque ela seja secundaria no campo de batalha, ela é CENTRAL em todas as escolas por muito tempo.

Agora imagine-se um guerreiro samurai(já quê nem todo samurai era guerreiro); a qualquer momento pode ser chamado à batalha.  Isto por si só já é um estímulo para se treinar. Lanças nem sempre estão a mão e parceiros de treino também pode ser difíceis de achar (você não quer treinar com estranhos). Isto estímula a busca de soluções que envolvam treino solo. Nasce o battouiai ou treino de saque.

O battouiai(mais tarde chamado de iaijutsu/ iaido) é uma prática na qual se saca a espada realizando imediatamante um corte. A idéia é reagir-se a presença de um oponente. Ao contrário do quê alguns pensam, a principal função da prática de formas de battouiai não era preparar o guerreiro para defender-se de "ataques surpresa" e sim exercitar seu corpo no movimento. A mentalização do oponente servia mais de estímulo a correta execução do quê uma real valia contra ataques sorrateiros, que só podem ser defendidos com sorte. O quê nos leva à...

Guerreiros e Deuses.

Por mais que se treine, basta um pouquinho de azar e acabamos cara-a-cara com alguém mais bem treinado. Ou ficamos doentes. Ou escorregamos. E nenhum treino do mundo pode mudar isto. Ou não?

Existe uma prática que visa resolver isto...chama-se oração.

Guerreiros costumavam peregrinar em direção a templos de divindades guerreiras(notadamente Kashima e Katori), onde ofereciam treinos intensos em devoção, pedindo orientação divina.

Agora, imagine-se um jovem de 18 anos, recém retornando de uma batalha onde quatro amigos morreram,  da qual você escapou devido a seu oponente ter escorregado em um cadáver. Após orar você resolve oferecer 10mil suburi(cortes no ar) com sua espada à Hachiman(divindade budista). Por volta do 9.175 corte percebe outro samurai observando-o atentamente...

- Posso ajudá-lo? - você pergunta...
- Desculpe, mas sua maneira de segurar o tsuka(cabo da espada) me parece desconfortável...não faz bolhas na mão não? - ele pergunta..
- Ofereço estas bolhas à Hachiman!
- Bem...oferecê-las em sacrifício é louvável, mas se segurar o tsuka desta forma(ele demonstra) estas bolhas não ocorrerão - diz ele.

Você experimenta e...pasmem! Realmente funciona muito melhor!

Depois de concluir seus 10mil suburi de forma muito mais rápida e menos penosa do quê jamais imaginou ser possível vocês dois saem para beber(guerreiros japoneses eram movidos à álcool) vocês resolvem testar suas técnicas usando galhos de árvore ao invés de espada. Não se trata bem de luta, mas de simulações de situações específicas("O quê você faz se tentarem te cortar assim?"). 

O resto vocês podem imaginar. Surgem sequências de ataques e respostas simuladas (kata) e são criados o bokuto (espada de madeira) e o shinai (espada de bambu).

O quê eram os Koryu Hyoho(métodos militares tradicionais)[segunda parte].

Bem, após sobreviver à inúmeros combates e trocar informações e técnicas com outros guerreiros em templos, você descobriu uma série de "macetes" e "truques"(jutsu em japonês) e conseguiu sistematizar um método de treinamento que capacitou a você e a seus subordinados sobreviverem e terem um alto rendimento em combate. Sua fama cresceu e gente veio de longe procurar sua orientação. Você até mesmo tornou-se Samurai (trad: foi contratado) na posição de instrutor oficial do Han(feudo = estado)...

Hoje em dia seria prestígio dizer que desenvolveu tudo sozinho. Mas não no Japão feudal.

Ninguém treinaria o estilo criado por um jovem, e no Japão, ainda hoje, você é "jovem" até os 55 anos.

Para lhe dar uma idéia, a escola de Musashi só ganhou renome mesmo algumas décadas após sua morte. Antes era estigmatizada ao extremo como uma "invencionice modernosa".

Como resolver este dilema? Haviam algumas soluções recorrentes:

"Uma divindade[Marishiten, Hachiman, TakemiKazuchi, etc...] veio a mim em um sonho e revelou-me a essência do caminho do Guerreiro!"  (Escolas que usam esta desculpa: Tenshin Shoden Katori Shinto ryu, Kashima Shinryu, Takeuchi ryu, etc...)

No entanto havia uma outra saída...usar a "flexibilidade" da língua japonesa e ser vago.
"Nossa escola descende da tradição do Grande Guerreiro/a ******  [Shinra Saburo Yoshimitsu, Tomoe Gozen, Araki Mujinsai, etc...] e a ele devemos gratidão por nos haver legado nossa força!"   (Daito ryu, inúmeras escolas de naginata, Araki ryu, etc...).

O detalhe marcante é: repare que em nenhum momento diz-se quando ele "criou" o estilo ou quê técnicas ele deixou. Nestas escolas a linhagem costuma ser escrita:

Fundador - Vulto Histórico
Pula n gerações
Soke - Zé da Silva

Os denshou (registros escritos da escola) mais antigos costumam, curiosamente, ser datados da época do primeiro soke efetivamente vinculado ao nome da arte.


O que são Denshou.

Vamos contextualizar...

Imaginemos que você criou um sistema de ensino de guitarra. Você bolou exercícios de dedilhar e memorização de notas. Solfejo. Improvisação.

Todo esse conteúdo não será empregado todo dia ou com todos os alunos do mesmo jeito. Isto significa que talvez você passe dois meses(ou anos) sem usar alguns deles.

Provavelmente você irá esquecê-los. Para piorar, existem exercícios que não serão necessários para que alguns alunos(mais habilidosos) aprendam a tocar, mas serão essenciais caso eles desejem um dia ensinar.

O quê você faz? Você anota em cadernos. Você faz cópia destas anotações e dá estas para aqueles alunos que concluiram o curso e desejam ensinar, como um lembrete DAQUILO QUE ELES JÁ APRENDERAM E DOMINARAM. Desta forma seu método pode ser passado adiante com pouca alteração.

Estes seriam os chamados "Denshou"(esinamentos escritos). Um estilo sem densho sofreria mudanças sutis de ano em ano. Radicais a cada geração, chegando ao ponto que não se poderia sequer falar em "estilo".

Conclusão.

Apesar de se falar muita coisa sobre porquê treinar formas de Budo japonês (defesa pessoal, filosofia, saúde), a razão real costuma ser ignorada; treina-se para se preservar uma tradição.

Defesa pessoal pode ser obtida muito mais fácil e de forma mais eficaz com um spray de pimeta ou uma stun gun. Filosofia pode ser assimilada conversando com acadêmicos e boa forma através de uma infinidade de exercícios.

O objetivo pelo qual se começa a treinar Budo poder ser qualquer um, mas a razão de se continuar praticando é sempre a mesma: amor pela arte e senso de responsabilidade pla sua preservação.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Mens sana ex corpore

Em toda a nossa história lutamos para deixar claro que não somos animais.

Almejamos ser mais. Como não conseguimos procuramos ao menos ser diferentes dos demais. Daí nossa necessidade de contextualizar e ritualizar. E de dar "significados" às coisas. É da nossa natureza animal não querer ser animal.

Nós pegamos todas as nossas funções biológicas e remodelamos baseados em nossa estética (não estou falando de "boniteza" e sim de valoração baseada em critérios pessoais de apêgo). "Triple Footfucking é um conceito tão absurdo...nenhum animal faria...então é prova de minha humanidade!"

O modelo de sociedade patriarcal se adequou ao ser humano por milênios. Nosso atual estágio pôs este modelo em xeque. Graças à tecnológia somos tão "intelectualizados" que nossa corporeidade ficou relegada a papéis secundários. Neste contexto o gênero perdeu o sentido, daí a "emancipação da mulher"...afinal, nos dias de hoje ser homem ou mulher faz pouca ou nenhuma diferença.

Sexualmente já se aceita que o quê importa é o prazer, tanto faz se com pênis, vagina, ânus ou alicate industrial. Trabalho braçal quem faz é máquina. Intelecto é desenvolvido pelo esforço, não pelo DNA, portanto X ou Y, sem estudar não vai a lugar algum.

O problema maior é ainda se pensar em têrmos de HOMEM(XY)/MULHER(XX).

Excluam-se os corpos, onde residem a diferenças? Elas são reais?

A internet é um boa prova disto. Existem mulheres em fóruns que na realidade são perfis falsos, escritos por homens. O contrário também é verdade. E a menos que estas pessoas se confessem, provavelmente jamais iremos desconfiar.

Hoje em dia é possível se manifestar apenas mente. Comunidades do orkut são um exemplo. Aqui minha corporeidade tem pouca relevância. Meu único aspecto manifesto é minha mente. A corporeidade atua apenas como filtro de minha percepção da realidade.

Graças aos irmãos Wachowski algo que discuti com uma ex em 1998 ficou mais claro de explicar. O quanto nossa corporeidade afeta nosso julgamento.

Existem homens que fazem cirurgias para "se tornar" mulher. E mulheres que "viram" homens(beeeem mais complexo). Mas com interfaces neurais e ambiguidade sexual, ser homem ou mulher perde a objetividade. Mulheres saberão como é sentir a penetração à partir da pressão em seu pênis. E homens à partir de suas vaginas. Basta desejarem experimentar.

O quê é um homem? Seu pênis? E a mulher é definida pela sua vagina? Qual seu "gênero" quando isto se torna opção?

Estamos vivendo a aurora da desincorporação e eu tenho muito medo de suas consequências...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Desafio de observar uma prática marcial.

Coloquei um video em minha página do orkut quê é propositalmente ambíguo. O título é "Mutou dori - hidden ougi"(algo como "grande princípio secreto do controle da não-espada").

Nele eu golpeio meu aluno Vicente com um corte vertical descendente. Em resposta Vicente aparentemente segura o meu corte "batendo palmas" no bokuto("espada" de madeira), para logo em seguida projetar-me ao solo. É uma técnica bonita e por isso mesmo usada de tempos em tempos por filmes de artes marciais (vide os 5minutos e 40 segundos deste episódio de Animatrix).

Poucos sabem que ela é oriunda da escola Yagyu. É uma técnica antiga, desenvolvida numa era em quê apenas técnicas eficazes eram perpetuadas.

No entato...qualquer um que a veja se pergunta: dá mesmo para pegar uma lâmina tão afiada, manejada com tanta velocidade, a tempo de não ser cortado em dois? Acrescente o fato quê a lâmina está devidamente oleada e fica quase invisível neste ângulo...

A resposta é não, é impossível realizar esta técnica deste jeito. Seria necessária força, velocidade, reflexos, precisão e sangue frio sobre-humanos.

Então por quê o clã Yagyu desenvolveu esta técnica? E por quê ela foi preservada?

A resposta está no título que dei ao video. Esta técnica ensina o "grande princípio secreto do controle da não-espada". Uma vez que o praticante tenha aprendido a realizar este kata desta forma "absurda" ele vai receber uma instrução direta(kuden) que vai permitir que ele torne a técnica eficaz.

Mas por quê não treinar logo da forma eficaz?

Simples...a forma eficaz só pode ser realizada após serem adquiridas certas habilidades que somente a forma "absurda" é capaz de desenvolver.

CONCLUSÃO

Quando assistimos uma demonstração de artes marciais, métodos de combate militares/urbanos ou mesmo intervenções médicas devemos ter em mente que não é sempre que temos o embasamento teórico necessário para ENTENDER o quê estamos vendo. Nossa interpretação daquilo que está diante dos nossos olhos pode estar diametralmente oposta a sua realidade.

Este é o real significado da palavra humildade: admitir nossa potencial ignorância.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

O papel dos torneios de MMA nas artes marciais.


Torneios abertos não são novidade. Seja na Grécia antiga, nos portos das Américas e Europa, ou nas cidades do Japão e China; sempre houve espaço para circos de desafios. Esta tendência era cíclica, com estes torneios começando, gerando grande interesse e depois caindo no esquecimento, debaixo de inúmeras críticas quanto a sua selvageria.

A década de noventa trouxe este fenômeno de volta com uma nova abordagem: sua internacionalização e trasmissão ao vivo. A importância destas duas "inovações" é muito maior do quê se imagina a priori.

A primeira importância é o fato de quê ficou mais dificil esconder os resultados. Quem ganha e quem perde se torna um dado público, registrado e inquestionável. Acabou o tempo em que você podia esconder suas derrotas simplesmente se mudando de cidade. A segunda foi o fato de se perceber que o fator "espetáculo" vem em primeiro lugar. Ninguém quer pagar para ver 3 horas e meia de dois homens agarrados no chão sem fazer nada. Novas regras fora criadas em favor do público, que paga para ver um duelo de habilidade e força.

Quão real é o ValeTudo?

As pessoas têm o mau hábito de se precipitarem em julgar sem se informarem ou contextualizarem adequadamente.

Quando vemos dois homens num ringue se esmurrando, sangrando, tendo ossos quebrados e evetualmente morrendo no ringue é dificil pensar neste cenário como sendo qualquer coisa que não um combate real. Isto se dá porquê a primeira coisa que associamos à idéia de combate é a troca de agressões físicas. Sob esta óptica o ValeTudo é realmente um combate "real"...

O problema desta visão é que, baseado nela eu poderia afirmar que espancar um prisioneiro algemado também seria um combate real.

Aspectos irreais do ValeTudo.

1. Luta previamente programada: você sabe com quem, onde, quando e sob que regras vai lutar. Um combate real normalmente apenas um dos lados sabe algumas destas coisas e planeja surpreender sua vítima.

2. Juízes: existem pessoas prontas para interferir caso a violência do combate ponha em risco os atletas.

3. Equipe de socorro de urgência.

4. A possibilidade de se desistir da luta, antes, durante ou depois.

Numa situação real você provavelmente foi surpreendido ou não dimensionou o risco real que seu antagonista representa. Você provavelmente está REAGINDO o que lhe coloca em desvantagem contra um oponente que tenha planejado a situação. Ainda que seja apenas um caso de briga de idiotas ( nenhum dos dois planejou, mas nenhum vai querer parecer covarde) o fato é que você não estava preparado para lutar. Você não conhece o ambiente, não sabe das habilidades e recursos de seu oponente...e ignorância mata.

O papel da luta de chão.

Uma das principais conclusões erradas oriundas dos torneios de MMA é "luta de chão é essencial para defesa pessoal". As explicações vão desde "nela tamanho não é relevante" à "hoje em dia todo mundo sabe um pouco de chão, quem não souber nada apanha!". 

Bem, tamaho SEMPRE conta. Em casos de grande desproporção ir para o chão pode lhe colocar em grande desvantagem. E quanto a "todo mundo sabe"...bem, a menos que você seja um expert, o risco de ir para o chão com alguém MAIS EXPERIENTE já é um desestímulo.

Na realidade, o maior problema da luta de solo está em trabalhar contra o propósito maior da defesa pessoal; permitir que você se afaste da ameaça. Quando trocamos murros ou chutes podemos abrir caminho para nossa fuga. O mesmo não se aplica a luta de solo. Uma vez que você foi para o chão não há outra alternativa senão incapacitar o oponente (desmaia-lo, quebrar-lhe um braço ou perna). Além da questão "ter que ganhar a luta"(o quê pode prolongar a situação) você terá mais tarde de lidar com o risco de um processo por lesões corporais.

Outro problema da luta de solo é a perda de visão. Ao se lutar tão próximo fica muito dificil mantêr as mãos do oponente visíveis, o quê permite que facas, chaves e outros objetos perfuro-cortantes sejam usados contra nós. Isso sem falar o fato de quê a mordida humana pode gerar uma pressão de mais de 200 libras(por volta de 90kg) mais que suficiente para arrancar dedos, cortar ligamentos...

O que podemos aprender com os MMA?

Que tamanho conta muito. Que o corpo humano aguenta muita pancada antes de desistir. Que nossa precisão cai e técnicas complexas não são confiáveis. Que o pouco que conseguimos realmente usar em um oponente, similarmente treinado que não deseja se submeter, é o mesmo indepedente da arte marcial treinada.

E que não é bom puxar briga com campeões de torneios de MMA :D

Vinicius de Moraes em Neo-miguxês.

 

TeRNUrAh

eu TI PeXXU perdAum PoR tI AMaH Di RepenTi
emBORaH U mEu aMor
sEJah 1 VElHah kAnXXAUM NuxXx teUxXx OviDuxXx
DAxXx HorAxXx KI paXXEi a SOmBRAH DUxXx TEuxXx GEstUxXx
BEBeNU eM TuaH bocah U PErfuME DuxXx SORrisUxXx
daxXx noiTixXx Ki vivi aCaLENTaNU
PeLaH gRaXXah InDIziveu
DuxXx teuxXx PAXXuxXx eteRnAmenTi FUGinu
tRAGu A doXXuRAH
dUxXx Ki AcEITAM MELanCOLIcAMeNtI......
i poXXu TI DIzE
ki u GrANdi afEtU KI ti DexXxu
NaUm TRaIxXx U ExXxaSPerU dAxXx lagrImAxXx
nEm a fasciNAXXAum DaxXx proMEXXAxXx
NeM axXx miStErioSAxXx PaLaVRAxXx
duxXx veuxXx dAh Almah..................
eH 1 SoXXeGU...1 UNXXAUM,
1 TrAnSborDamenTu dI kArICiaxXx
I SoH tI pEdi kI tI RePoSExXx KIeTAH,
MTu kIeTAH
I DExXxExXx kI AxXx mAuxXx KaLidaxXx DaH Noiti
enCoNTrEM seM FAtALIdadi
u oLHAH EsTATiCU dah auroRAh.....

ViNIciuxXx Di moRAExXx

Entendendo o katageiko.


Os dois erros mais comuns eram uke manequim(imóvel, espera ser arrastado pelo nage) e uke uga-buga(Hulk esmaga nagezinho!). Também vejo muito em demonstrações de Aikido pessoas com ótimas projeções que são péssimos ukemi. É a clássica tendência de se antecipar ao nage, resistir à ele ou ficar inerte esperando ser movido...

Problema similar vejo no Karate sob a forma de kihon onde o tori reage a um ataque antes dele ocorrer, se baseando no fato deste ser predeterminado. A idéia dos kihon é serem fundamentos. Neles o "defensor" age de forma apropriada ao contexto criado pelo "agressor". Se o agressor não cria o contexto predeterminado a resposta do defensor não faz sentido. Este contexto inclui a forma de "reagir" ao ataque. Quando o "defensor" esquiva antes da hora ele está bancando o "telepata", antecipando as intenções do atacante e contando com seu comprometimento à um ataque fadado ao fracasso. Quando o atacante pára seu movimento, cessando sua "energia"(inércia), é absurdo querer usá-la contra ele. Quando ele resiste, insistir na idéia original é idiotice(ela já foi reconhecida e apropriadamente neutralizada).

Aikido é treinamento para que se adquira naturalidade de movimentação e improvisação...estas coisas é que PODEM vir a funcionar num combate.
Aikido, treinado de forma orientada para combate, também fortalece os ossos, ligamentos e músculos...e força PODE ser vantajosa...por quê é tao difícil aplicar uma torção à la aikido ou chinna num MMA da vida?

As torções funcionam porquê o oponente está usando os braços para bloquear tuas tentativas de atingí-lo com ataques traumáticos(socos por exemplo)...em MMA ou você ignora as porradas do oponente ou você esquiva(se conseguir) e contra-ataca; é por isto que "tentar fazer chaves e projeções" não é aiki...é ju.
Quando se usa aiki em um oponente que não tenta se proteger de nossos atemi, estes se tornam fim em si mesmo.

Esse sou eu...

Two roads diverged in a yellow wood
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Thought as for that the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had troden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I-
I took the one less traveled by,
And that has made all the diference.

Robert Frost(1874-1963)

terça-feira, 27 de maio de 2008

Dois grandes mestres obcecados com a realidade do combate.


Kunii ZeYa(soke e shihanke da tradição Kashima Shinryu) e Massad Ayoob(criador do método StresFire e fundador do Lethal Force Institute).

Benéfico ou prejudicial?

Propriocepção. A capacidade de termos consciêcia de nossa própria corporeidade. É este complexo de vários sentidos que nos capacita a realizar movimentos sem necessariamente precisarmos olhar ou mesmo estar conscientes do movimento em si.

Quando um movimento é requisitado com frequência nosso sistema nervoso "registra" o conjunto de comandos necessários para realizá-lo. Com isto ganhamos mais desenvoltura em fazê-lo. É por isto que com a prática movimentos complexos ficam progressivamente mais fáceis. Isto é chamado por muitos, ainda que incorretamente, de "memória neuro-muscular"(como se músculos tivessem memória).

Estes "programas motores", uma vez registrados, são ativados quando situações apresentam, em linhas gerais, o cenário no qual eles costumam ser usados.  É por esta razão que um dançarino de Ballet vai "sambar engraçado". Ou um nativo do idioma russo vai falar inglês "esquisito". E também por esta razão que enfermeiros treinados vão reagir mais rapidamente e de forma mais eficaz à um efarto num restaurante do quê os demais clientes.

E eis o dilema...este processo não é motor e sim cognitivo. Não se trata do corpo "memorizando" e sim da mente se habituando. Por esta razão este mecanismo funciona não só em movimentação, mas também em forma de associar idéias. Na nossa forma de pensar.

"A mente que deseja livrar-se da mente é o maior impecilho da mente que deseja livrar-se da mente."

Ou, dito de outra forma igualmente confusa, pensar em não pensar em nada também é pensar. Trata-se de uma orientação do método militar Yagyu Shinkage ryu. De forma simplificada, a idéia é que o objetivo de um método militar(ou qualquer outro) é reprogramar sua mente e recondicionar seu corpo. Trocar hábitos velhos(e ineficazes) por novos(e eficazes). E para que este processo venha a acontecer é necessário que o estudante enfrente a tedência natural de seus velhos hábitos aflorarem de forma inconsciente.

Esta manifestação fica bem evidente quando o aluno erra a mesma coisa, num esmo exercício, numa mesma etapa, de mesmo jeito e tem consciência de estar errando durante a execução, mas não consegue evitar o erro. Normalmente este aluno é capaz de perceber seu erro e sabe como corrigi-lo, mas ao executar o movimento o erro acontece do mesmo jeito.

Este processo, que atrapalha tanto o aprendizado, será responsável pela preservação das novas habilidades, tão almejadas pelo iniciante.

Bem vindos!

Meu perfil fala sobre mim, de forma que prefiro falar sobre este blog e sua proposta.
A história costuma ter seu começo determinado como sendo o surgimento da escrita. A criação da imprensa por Gutenberg foi um marco fundamental na disseminação das idéias. O telégrafo permitiu que a barreira da distância fosse superada e uma instantaneidade fosse atingida. O rádio e o cinema, e mais tarde a televisão, aumetaram o espectro de realidade na trasmissão de experiências locais em uma escala global.

E a internet se fez. E eu vi que ela PODE ser boa.

Difundindo e dispersando idéias.

O objetivo deste blog é expor minhas idéias e propostas. Como artes marciais sempre estiveram presentes em minha vida é de se supor que elas estarão muito presentes por aqui. Mas este não será um blog exclusivamente sobre Aikido, Kendo e Iaido (as três modalidades com as quais estou mais fortemente envolvido no momento). Ou mesmo apenas sobre artes marciais.

Este blog é sobre como eu vejo o mundo e que propostas posso apresentar para transformá-lo.

Quem sou eu

Minha foto
Salvador, Bahia, Brazil
Um shodanzinho autodidata que acabou virando um polivalente polidanzinho autodidata.