quinta-feira, 5 de junho de 2008

Mens sana ex corpore

Em toda a nossa história lutamos para deixar claro que não somos animais.

Almejamos ser mais. Como não conseguimos procuramos ao menos ser diferentes dos demais. Daí nossa necessidade de contextualizar e ritualizar. E de dar "significados" às coisas. É da nossa natureza animal não querer ser animal.

Nós pegamos todas as nossas funções biológicas e remodelamos baseados em nossa estética (não estou falando de "boniteza" e sim de valoração baseada em critérios pessoais de apêgo). "Triple Footfucking é um conceito tão absurdo...nenhum animal faria...então é prova de minha humanidade!"

O modelo de sociedade patriarcal se adequou ao ser humano por milênios. Nosso atual estágio pôs este modelo em xeque. Graças à tecnológia somos tão "intelectualizados" que nossa corporeidade ficou relegada a papéis secundários. Neste contexto o gênero perdeu o sentido, daí a "emancipação da mulher"...afinal, nos dias de hoje ser homem ou mulher faz pouca ou nenhuma diferença.

Sexualmente já se aceita que o quê importa é o prazer, tanto faz se com pênis, vagina, ânus ou alicate industrial. Trabalho braçal quem faz é máquina. Intelecto é desenvolvido pelo esforço, não pelo DNA, portanto X ou Y, sem estudar não vai a lugar algum.

O problema maior é ainda se pensar em têrmos de HOMEM(XY)/MULHER(XX).

Excluam-se os corpos, onde residem a diferenças? Elas são reais?

A internet é um boa prova disto. Existem mulheres em fóruns que na realidade são perfis falsos, escritos por homens. O contrário também é verdade. E a menos que estas pessoas se confessem, provavelmente jamais iremos desconfiar.

Hoje em dia é possível se manifestar apenas mente. Comunidades do orkut são um exemplo. Aqui minha corporeidade tem pouca relevância. Meu único aspecto manifesto é minha mente. A corporeidade atua apenas como filtro de minha percepção da realidade.

Graças aos irmãos Wachowski algo que discuti com uma ex em 1998 ficou mais claro de explicar. O quanto nossa corporeidade afeta nosso julgamento.

Existem homens que fazem cirurgias para "se tornar" mulher. E mulheres que "viram" homens(beeeem mais complexo). Mas com interfaces neurais e ambiguidade sexual, ser homem ou mulher perde a objetividade. Mulheres saberão como é sentir a penetração à partir da pressão em seu pênis. E homens à partir de suas vaginas. Basta desejarem experimentar.

O quê é um homem? Seu pênis? E a mulher é definida pela sua vagina? Qual seu "gênero" quando isto se torna opção?

Estamos vivendo a aurora da desincorporação e eu tenho muito medo de suas consequências...

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
Salvador, Bahia, Brazil
Um shodanzinho autodidata que acabou virando um polivalente polidanzinho autodidata.