quinta-feira, 19 de junho de 2008

Aprender, Treinar & Incorporar

Aprender: imitar alguém que apresenta uma proposta que se julga digna de mérito.
Treinar: repetir CORRETAMENTE algo que foi APRENDIDO, de modo ser capaz de fazê-lo de forma natural e automática.
Incorporar: é quando algo novo é aprendido e treinado ao ponto de o conhecermos intimamente e sermos capazes de contextualizá-lo.

Para que está familiarizado com as artes marciais japonesas a expressão "Shu-Ha-Ri" virá a tona. Preservar, Quebrar e Libertar-se.

Aprendendo a aprender.

O problma de "aprender" é compreender que no começo é basicamente repetir algo que não se entende. Entender vm depis, quando a imitação já se tornou fidedigna, nunca antes. E é aqui que mora o dilema.

Ao chegarmos na fase adulta já temos uma visão dicotomizada entre utilitarismo e diletantismo. Existe as coisas funcionais(que cumprem funções) e as nossas disgresões (coisas que fazemos como formas de expressão de individualidade). Atividades utilitaristas não são vistas em si, e sim em seus resultados. Já as disgressões são usufruídas exatamente em sua características irresponsável e inconsequente.

É por isto que temo doisd tipos de erros comuns em artes marciais: falta de empenho ou excesso de brutalidade.

Os que enxergam artes marciais como métodos de combate corpo-a-corpo não enxergam o quê é treinado e sim a habilidade que almejam. Quando o instrutor exibe a técnica a ser praticada, o aluno utilitarista não enxerga a técnica e sim seu efeito no colega de prática("o mestre arremessou o cara longe...como ele é FORTE!"). Concentrado em tentar repetir o EFEITO o aluno tenta solucionar o dilma("como arremessar o cara daquele jeito?") ao invés de se concentrar em repetir a simulação de técnica apresentada(que é a solução). Erro similar ocorre quando se exerga estas modalidade como ginástica, dança, meditação...

Os que enxergam artes marciais como de lazer não percebem o treino e sim socialização e recompensa (elogios, prestígio, títulos). Por não treinarem visando copiar o quê é explicitado, ficam à espera da "explicação clara". Ou da "prática que leva à perfeição" (qum dirige sabe como práica não leva a perfeição nnhuma, ou o trânsito seria perfeito...).

Esforçar-se em ser capaz de mimetizar o professor em cada detalhe deve ser a única meta na mente do iniciante.

Continua...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O que são artes marciais japonesas.


A maioria das coisas que "todo mundo sabe" estão erradas. As poucas que estão corretas estão descontextualizadas.

O têrmo "Artes Marciais" é europeu, de origem na cultura clássica. Denota expresões artísticas relacionadas à guerra e não necessariamente à batalha. A composição de marchas não é uma atividade de combate, no entato está relacionada à guerra. A heráldica é outro exemplo de arte marcial não combativa.

Quando as modalidades de treinamento de combate orientais foram descobertas pelos europeus, sua plasticidade evocou a noção de estética artística. Daí que foram automaticamente reconhecidas como artes marciais, muito embora alguns preferissem chamar de "ginástica" por julgarem tais métodos anacrônicos e passíveis de preservação apenas como manifestações culturais.

O maior erro que se comete é julgar que um método de combate trata-se de uma mera coletânea de truques ou técnicas a serem memorizadas. Esse equívoco é que leva muitos a acharem que basta juntar as "técnicas mais eficazes de diferentes estilos para criar a arte definitiva!".

Entendendo o Budo.

A idéia num budo é quê através da prática de determinadas simulações seria possível interiorizar comportamentos e sentimentos adequados à realidade do combate. Prática CORRETA, sendo quê atingir o nível de execução correta das técnicas é o quê definia o INÍCIO DA PRÁTICA DE UM BUDO; tudo o quê antecede este momento seria preparação para o efetivo treino que ainda não começara.

Ao contrário do quê ocorre hoje em dia, o aluno fazia exatamente aquilo que o sensei mandava, sem questionamentos imbecis do tipo "e se". Isto tornava o tempo de aprendizado da forma ( kata) mais rápido (semanas). Com o kata aprendido, começava-se o treino propriamente dito. Estes kata visavam o mais relevante e provável e contavam com a idéia de quê o elemento surpesa seria seu.

A abordagem dos duelos era muito diferente da nossa visão de competição. A começar pelo fato de quê duelar era visto como um ato egoista (você colocava em risco sua vida em função de um problema pessoal), diferente de lutar por ordem de seu Daimyo (grandes nomes- administradores, similares à barões europeus) ou por devoção filial.

A idéia do treinamento de budo era instilar bravura e disciplina e te preparar para o campo de batalha, e não para vencer duelos.

O quê eram os Koryu Hyoho(métodos militares tradicionais).

Em primeiro lugar devemos entender a importância da espada. Para o samurai, mais do quê uma ferramenta de guerra, ela era uma insígnia de autoridade e símbolo de classe. Desta forma ela SEMPRE estava em suas mãos.

É por isto que, aindaque ela seja secundaria no campo de batalha, ela é CENTRAL em todas as escolas por muito tempo.

Agora imagine-se um guerreiro samurai(já quê nem todo samurai era guerreiro); a qualquer momento pode ser chamado à batalha.  Isto por si só já é um estímulo para se treinar. Lanças nem sempre estão a mão e parceiros de treino também pode ser difíceis de achar (você não quer treinar com estranhos). Isto estímula a busca de soluções que envolvam treino solo. Nasce o battouiai ou treino de saque.

O battouiai(mais tarde chamado de iaijutsu/ iaido) é uma prática na qual se saca a espada realizando imediatamante um corte. A idéia é reagir-se a presença de um oponente. Ao contrário do quê alguns pensam, a principal função da prática de formas de battouiai não era preparar o guerreiro para defender-se de "ataques surpresa" e sim exercitar seu corpo no movimento. A mentalização do oponente servia mais de estímulo a correta execução do quê uma real valia contra ataques sorrateiros, que só podem ser defendidos com sorte. O quê nos leva à...

Guerreiros e Deuses.

Por mais que se treine, basta um pouquinho de azar e acabamos cara-a-cara com alguém mais bem treinado. Ou ficamos doentes. Ou escorregamos. E nenhum treino do mundo pode mudar isto. Ou não?

Existe uma prática que visa resolver isto...chama-se oração.

Guerreiros costumavam peregrinar em direção a templos de divindades guerreiras(notadamente Kashima e Katori), onde ofereciam treinos intensos em devoção, pedindo orientação divina.

Agora, imagine-se um jovem de 18 anos, recém retornando de uma batalha onde quatro amigos morreram,  da qual você escapou devido a seu oponente ter escorregado em um cadáver. Após orar você resolve oferecer 10mil suburi(cortes no ar) com sua espada à Hachiman(divindade budista). Por volta do 9.175 corte percebe outro samurai observando-o atentamente...

- Posso ajudá-lo? - você pergunta...
- Desculpe, mas sua maneira de segurar o tsuka(cabo da espada) me parece desconfortável...não faz bolhas na mão não? - ele pergunta..
- Ofereço estas bolhas à Hachiman!
- Bem...oferecê-las em sacrifício é louvável, mas se segurar o tsuka desta forma(ele demonstra) estas bolhas não ocorrerão - diz ele.

Você experimenta e...pasmem! Realmente funciona muito melhor!

Depois de concluir seus 10mil suburi de forma muito mais rápida e menos penosa do quê jamais imaginou ser possível vocês dois saem para beber(guerreiros japoneses eram movidos à álcool) vocês resolvem testar suas técnicas usando galhos de árvore ao invés de espada. Não se trata bem de luta, mas de simulações de situações específicas("O quê você faz se tentarem te cortar assim?"). 

O resto vocês podem imaginar. Surgem sequências de ataques e respostas simuladas (kata) e são criados o bokuto (espada de madeira) e o shinai (espada de bambu).

O quê eram os Koryu Hyoho(métodos militares tradicionais)[segunda parte].

Bem, após sobreviver à inúmeros combates e trocar informações e técnicas com outros guerreiros em templos, você descobriu uma série de "macetes" e "truques"(jutsu em japonês) e conseguiu sistematizar um método de treinamento que capacitou a você e a seus subordinados sobreviverem e terem um alto rendimento em combate. Sua fama cresceu e gente veio de longe procurar sua orientação. Você até mesmo tornou-se Samurai (trad: foi contratado) na posição de instrutor oficial do Han(feudo = estado)...

Hoje em dia seria prestígio dizer que desenvolveu tudo sozinho. Mas não no Japão feudal.

Ninguém treinaria o estilo criado por um jovem, e no Japão, ainda hoje, você é "jovem" até os 55 anos.

Para lhe dar uma idéia, a escola de Musashi só ganhou renome mesmo algumas décadas após sua morte. Antes era estigmatizada ao extremo como uma "invencionice modernosa".

Como resolver este dilema? Haviam algumas soluções recorrentes:

"Uma divindade[Marishiten, Hachiman, TakemiKazuchi, etc...] veio a mim em um sonho e revelou-me a essência do caminho do Guerreiro!"  (Escolas que usam esta desculpa: Tenshin Shoden Katori Shinto ryu, Kashima Shinryu, Takeuchi ryu, etc...)

No entanto havia uma outra saída...usar a "flexibilidade" da língua japonesa e ser vago.
"Nossa escola descende da tradição do Grande Guerreiro/a ******  [Shinra Saburo Yoshimitsu, Tomoe Gozen, Araki Mujinsai, etc...] e a ele devemos gratidão por nos haver legado nossa força!"   (Daito ryu, inúmeras escolas de naginata, Araki ryu, etc...).

O detalhe marcante é: repare que em nenhum momento diz-se quando ele "criou" o estilo ou quê técnicas ele deixou. Nestas escolas a linhagem costuma ser escrita:

Fundador - Vulto Histórico
Pula n gerações
Soke - Zé da Silva

Os denshou (registros escritos da escola) mais antigos costumam, curiosamente, ser datados da época do primeiro soke efetivamente vinculado ao nome da arte.


O que são Denshou.

Vamos contextualizar...

Imaginemos que você criou um sistema de ensino de guitarra. Você bolou exercícios de dedilhar e memorização de notas. Solfejo. Improvisação.

Todo esse conteúdo não será empregado todo dia ou com todos os alunos do mesmo jeito. Isto significa que talvez você passe dois meses(ou anos) sem usar alguns deles.

Provavelmente você irá esquecê-los. Para piorar, existem exercícios que não serão necessários para que alguns alunos(mais habilidosos) aprendam a tocar, mas serão essenciais caso eles desejem um dia ensinar.

O quê você faz? Você anota em cadernos. Você faz cópia destas anotações e dá estas para aqueles alunos que concluiram o curso e desejam ensinar, como um lembrete DAQUILO QUE ELES JÁ APRENDERAM E DOMINARAM. Desta forma seu método pode ser passado adiante com pouca alteração.

Estes seriam os chamados "Denshou"(esinamentos escritos). Um estilo sem densho sofreria mudanças sutis de ano em ano. Radicais a cada geração, chegando ao ponto que não se poderia sequer falar em "estilo".

Conclusão.

Apesar de se falar muita coisa sobre porquê treinar formas de Budo japonês (defesa pessoal, filosofia, saúde), a razão real costuma ser ignorada; treina-se para se preservar uma tradição.

Defesa pessoal pode ser obtida muito mais fácil e de forma mais eficaz com um spray de pimeta ou uma stun gun. Filosofia pode ser assimilada conversando com acadêmicos e boa forma através de uma infinidade de exercícios.

O objetivo pelo qual se começa a treinar Budo poder ser qualquer um, mas a razão de se continuar praticando é sempre a mesma: amor pela arte e senso de responsabilidade pla sua preservação.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Mens sana ex corpore

Em toda a nossa história lutamos para deixar claro que não somos animais.

Almejamos ser mais. Como não conseguimos procuramos ao menos ser diferentes dos demais. Daí nossa necessidade de contextualizar e ritualizar. E de dar "significados" às coisas. É da nossa natureza animal não querer ser animal.

Nós pegamos todas as nossas funções biológicas e remodelamos baseados em nossa estética (não estou falando de "boniteza" e sim de valoração baseada em critérios pessoais de apêgo). "Triple Footfucking é um conceito tão absurdo...nenhum animal faria...então é prova de minha humanidade!"

O modelo de sociedade patriarcal se adequou ao ser humano por milênios. Nosso atual estágio pôs este modelo em xeque. Graças à tecnológia somos tão "intelectualizados" que nossa corporeidade ficou relegada a papéis secundários. Neste contexto o gênero perdeu o sentido, daí a "emancipação da mulher"...afinal, nos dias de hoje ser homem ou mulher faz pouca ou nenhuma diferença.

Sexualmente já se aceita que o quê importa é o prazer, tanto faz se com pênis, vagina, ânus ou alicate industrial. Trabalho braçal quem faz é máquina. Intelecto é desenvolvido pelo esforço, não pelo DNA, portanto X ou Y, sem estudar não vai a lugar algum.

O problema maior é ainda se pensar em têrmos de HOMEM(XY)/MULHER(XX).

Excluam-se os corpos, onde residem a diferenças? Elas são reais?

A internet é um boa prova disto. Existem mulheres em fóruns que na realidade são perfis falsos, escritos por homens. O contrário também é verdade. E a menos que estas pessoas se confessem, provavelmente jamais iremos desconfiar.

Hoje em dia é possível se manifestar apenas mente. Comunidades do orkut são um exemplo. Aqui minha corporeidade tem pouca relevância. Meu único aspecto manifesto é minha mente. A corporeidade atua apenas como filtro de minha percepção da realidade.

Graças aos irmãos Wachowski algo que discuti com uma ex em 1998 ficou mais claro de explicar. O quanto nossa corporeidade afeta nosso julgamento.

Existem homens que fazem cirurgias para "se tornar" mulher. E mulheres que "viram" homens(beeeem mais complexo). Mas com interfaces neurais e ambiguidade sexual, ser homem ou mulher perde a objetividade. Mulheres saberão como é sentir a penetração à partir da pressão em seu pênis. E homens à partir de suas vaginas. Basta desejarem experimentar.

O quê é um homem? Seu pênis? E a mulher é definida pela sua vagina? Qual seu "gênero" quando isto se torna opção?

Estamos vivendo a aurora da desincorporação e eu tenho muito medo de suas consequências...

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Desafio de observar uma prática marcial.

Coloquei um video em minha página do orkut quê é propositalmente ambíguo. O título é "Mutou dori - hidden ougi"(algo como "grande princípio secreto do controle da não-espada").

Nele eu golpeio meu aluno Vicente com um corte vertical descendente. Em resposta Vicente aparentemente segura o meu corte "batendo palmas" no bokuto("espada" de madeira), para logo em seguida projetar-me ao solo. É uma técnica bonita e por isso mesmo usada de tempos em tempos por filmes de artes marciais (vide os 5minutos e 40 segundos deste episódio de Animatrix).

Poucos sabem que ela é oriunda da escola Yagyu. É uma técnica antiga, desenvolvida numa era em quê apenas técnicas eficazes eram perpetuadas.

No entato...qualquer um que a veja se pergunta: dá mesmo para pegar uma lâmina tão afiada, manejada com tanta velocidade, a tempo de não ser cortado em dois? Acrescente o fato quê a lâmina está devidamente oleada e fica quase invisível neste ângulo...

A resposta é não, é impossível realizar esta técnica deste jeito. Seria necessária força, velocidade, reflexos, precisão e sangue frio sobre-humanos.

Então por quê o clã Yagyu desenvolveu esta técnica? E por quê ela foi preservada?

A resposta está no título que dei ao video. Esta técnica ensina o "grande princípio secreto do controle da não-espada". Uma vez que o praticante tenha aprendido a realizar este kata desta forma "absurda" ele vai receber uma instrução direta(kuden) que vai permitir que ele torne a técnica eficaz.

Mas por quê não treinar logo da forma eficaz?

Simples...a forma eficaz só pode ser realizada após serem adquiridas certas habilidades que somente a forma "absurda" é capaz de desenvolver.

CONCLUSÃO

Quando assistimos uma demonstração de artes marciais, métodos de combate militares/urbanos ou mesmo intervenções médicas devemos ter em mente que não é sempre que temos o embasamento teórico necessário para ENTENDER o quê estamos vendo. Nossa interpretação daquilo que está diante dos nossos olhos pode estar diametralmente oposta a sua realidade.

Este é o real significado da palavra humildade: admitir nossa potencial ignorância.

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Salvador, Bahia, Brazil
Um shodanzinho autodidata que acabou virando um polivalente polidanzinho autodidata.